Nos últimos meses, o valor das contas de água no Rio de Janeiro virou um dos principais assuntos entre síndicos, administradoras e moradores. Desde que novas concessionárias assumiram o abastecimento antes controlado pela Cedae, os condomínios vêm enfrentando aumentos expressivos nas faturas, muitas vezes sem que o consumo tenha aumentado.
Por trás dessa elevação está uma mudança na forma de cobrança: o modelo de “tarifa mínima multiplicada pelo número de economias”. Antes, o condomínio pagava uma única tarifa mínima referente ao hidrômetro coletivo. Agora, o valor mínimo é multiplicado pelo número de unidades do prédio — o que pode transformar a conta em um verdadeiro pesadelo financeiro.
Um cálculo que pesa no bolso coletivo
Imagine um condomínio com 100 apartamentos e uma tarifa mínima de R$ 700.
Antes, esse seria o valor total da conta base. Hoje, o cálculo é multiplicado por 100 — resultando em R$ 70 mil de cobrança mínima, mesmo que o consumo total seja muito menor.
Esse novo formato, embora respaldado por uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), tem gerado impactos graves nas finanças condominiais. Síndicos relatam que o aumento das contas de água vem comprometendo o caixa, atrasando manutenções, e, em muitos casos, exigindo cotas extras para equilibrar o orçamento.
Segundo a Associação Brasileira das Administradoras de Imóveis (Abadi), o problema é ainda mais crítico em prédios comerciais parcialmente desocupados, onde poucos condôminos acabam arcando com uma tarifa mínima cobrada de forma integral para cada unidade.
O reflexo direto na vida dos síndicos
Para o síndico, a questão vai muito além da fatura.
A nova tarifa cria um efeito dominó na gestão: ele precisa explicar o aumento aos moradores, revisar o orçamento, ajustar previsões financeiras e, muitas vezes, enfrentar insatisfação e desconfiança.
Afinal, é difícil justificar um aumento de 100% ou 200% em um serviço essencial quando o consumo não mudou.
Síndicos relatam que têm buscado alternativas como vistoria de vazamentos, revisões em medidores e refaturamentos junto às concessionárias, mas os esforços nem sempre são suficientes.
Como comenta Luciana Gualter, síndica de um prédio comercial no Centro do Rio:
“Essa mudança vai quebrar muitos condomínios. A conta simplesmente se tornou impagável.”
E para os moradores, o impacto é direto
Quem mora em condomínio sente o aumento no bolso e na convivência.
A alta nas contas de água afeta o valor da taxa condominial, reduz a margem para investimentos em melhorias e, em muitos casos, obriga a criação de cotas extras para cobrir a diferença.
Além do prejuízo financeiro, há um sentimento crescente de injustiça.
Muitos moradores se perguntam: “Por que pagar o mesmo valor de tarifa mínima se o consumo da minha unidade é baixo?”
A resposta está na metodologia atual, que considera o número de economias (unidades autônomas) e não o consumo efetivo — o que desvincula o valor pago da realidade de uso.
O que está sendo feito
A Abadi e o Secovi Rio já encaminharam ofícios à Agenersa (Agência Reguladora de Energia e Saneamento Básico do Estado do Rio de Janeiro) pedindo uma revisão urgente do modelo tarifário.
O pedido é para que a cobrança volte a refletir o consumo real, e não apenas uma presunção mínima.
A Agenersa informou que o tema será avaliado na próxima revisão tarifária ordinária, marcada para 2026 — uma data considerada tardia por quem vive o impacto agora. Enquanto isso, a recomendação é que os condomínios acompanhem de perto suas faturas, verifiquem possíveis vazamentos e, quando houver inconsistências, solicitem vistoria e refaturamento.
Por que a JUA apoia a campanha “Tarifa de Água Justa”
Como administradora e parceira de centenas de condomínios, a JUA vive diariamente a realidade dos síndicos e moradores.
Sabemos que o aumento das tarifas de água compromete orçamentos, gera insegurança e dificulta a boa gestão condominial.
Por isso, apoiamos e reforçamos a importância da campanha #TarifaDeÁguaJusta — um movimento que busca regras equilibradas, baseadas no consumo real e na viabilidade financeira dos condomínios.
Água é um direito essencial. E garantir que ela chegue de forma justa e acessível é responsabilidade de todos — do poder público às concessionárias, das administradoras aos moradores.
Dica da JUA para os síndicos
Enquanto a revisão tarifária não acontece, a boa gestão faz a diferença.
Algumas práticas podem ajudar a reduzir o impacto das contas:
- Acompanhe mensalmente o histórico de consumo e valores faturados.
- Solicite vistoria técnica se o valor estiver muito acima da média.
- Faça campanhas de conscientização interna sobre o uso racional da água.
- Avalie a possibilidade de instalação de hidrômetros individuais (quando tecnicamente viável).
- Negocie diretamente com a concessionária e, se necessário, busque apoio jurídico especializado.
Em tempos de contas cada vez mais altas, informação e transparência são os melhores aliados da boa gestão condominial.
A JUA segue ao lado dos síndicos e moradores, defendendo o uso consciente e uma cobrança justa — porque cuidar da água é cuidar da vida em comunidade.